Por que o Palmeiras não deu certo em 2017?
Talvez os itens abaixo elencados possam responder a pergunta. Mas, antes disso, gostaria de acentuar duas premissas deste artigo.
1. Não frequento os bastidores, para afirmar a ocorrência de determinados fatos e suas consequências. Eles são citados porque se tornaram públicos.
2. É fácil reclamar depois do que aconteceu, difícil é realizar. Por isso não se tem a intenção de execrar ninguém, nem realizar caça às bruxas, mas, apenas, elencar fatos para que eles não se repitam.
Diversos foram os fatos e as ocorrências que desaguaram neste desastre em 2017 (já iniciado no final de 2016, com a eleição da nova Diretoria e a programação para este ano) e, a meu ver, seis tópicos podem ajudar a entender o que ocorreu com o Palmeiras.
Não julgo se tais atos estão certos ou errados, nem que eles foram os únicos responsáveis pelo “fracasso” do futebol em 2017. São apenas constatações.
I – Diretoria e sua forma de trabalhar.
A gestão atual tem uma caraterística mais conciliadora e, por isso:
a) Houve mais influência de conselheiros e outros sócios do clube;
b) Houve reaproximação com a torcida organizada;
c) Houve reaproximação com a patrocinadora e ingresso de seus sócios no Conselho do Palmeiras;
d) Houve delegação de planejamento ao diretor remunerado do futebol.
II – Montagem do elenco. Atuação de Alexandre Mattos. Base em segundo plano.
O diretor remunerado tem como característica a agressividade nas contratações, trazendo, ao longo dos últimos três anos, uma infindável relação de atletas, diversos empresariados pela mesma pessoa.
Muitos foram úteis, outros nem tanto e outro tanto sem nenhuma condição de vestir nosso manto. Isso nos rendeu dois títulos nacionais, mas também um elenco inchado, ano após ano.
Porém, em nenhum momento foi dada prioridade e ou oportunidade aos chamados “pratas da casa”. Revelamos diversos bons jogadores e os deixamos sair, contratando outros piores que os garotos. Aliás, acabamos de vender ou emprestar três deles para a Europa (Vitinho, Iacovelli e Estigarribia) e receberemos, até dezembro, onze que estavam emprestados. Isso precisa mudar, pois há um custo na formação ou manutenção do atleta e a direção não valoriza. Como regra, o terceiro jogador da posição deveria ser da base.
Outro fator importante é que, para 2017, o elenco começou a ser montado quando estávamos sem técnico. Vieram 14 jogadores.
Esse foi um fator importante: no início, o elenco tinha a cara de Eduardo Batista e, depois, de CUCA, mas, no fim, está sem identidade.
III – Planejamento para 2017. A personalidade dos contratados.
“Quando o Cuca decidiu não ficar por problemas pessoais, tivemos que trazer um treinador com ideias novas, houve uma quebra de ideias. Não andou da maneira esperada. Tivemos que resgatar o Cuca sem tempo para treinar, com jogadores diferentes.” (Alexandre Mattos)
Acredito que estas afirmações do próprio diretor são autoexplicativas (demos duas guinadas em quatro meses), mas vamos lá.
As contratações, a meu ver – e isso o Palmeiras afirmou que faz – devem partir dos seguintes pressupostos: condição técnica, física, caráter, personalidade e psicológico forte para situações adversas.
Tudo isso deve ser verificado na análise de toda a carreira do atleta, porque no momento da decisão e da dificuldade, isso é o que faz a diferença. Infelizmente, muitos jogadores demonstraram despreparo técnico e emocional, principalmente nos momentos cruciais.
Acrescento, ainda, que o Palmeiras diz ter feito um planejamento adequado, mas é de se refletir. Por questões internas, dispensaram um treinador com menos de três meses de trabalho; sendo que ele havia indicado vários jogadores.
Com a saída de Batista, após 23 jogos, com 14 vitórias e 4 empates, CUCA voltou com um estilo completamente diferente, apostando em outra forma de jogar e, com isso, diversos jogadores perderam espaço e outros foram contratados.
Resultado: um elenco inchado e desmotivado e uma mudança de filosofia completa em quatro meses, retornando aos mesmos conceitos de 2016. Temos, para piorar, jogadores que não tiveram uma chance com nenhum dos dois treinadores deste ano.
Aliás, não era novidade para ninguém o risco que se corria com este elenco, recheado de jogadores experientes e dominadores. E nisso, a responsabilidade é do diretor e do presidente.
Em artigo escrito no mês de janeiro deste ano, neste mesmo site, anotei, naquele intitulado “Os grandes desafios para 2017”, que:
“O time está sendo remontado, já foram oito contratações e outro tanto de dispensas. Houve certa alteração do perfil dos jogadores: trocam-se promessas (da base ou contratados) e são incorporados jogadores já mais maduros e com características bem definidas...
Isso tem sua utilidade, mas não podemos esquecer que o passado recente de alguns deles talvez não recomendasse as contratações...
Além deles foram feitas contratações questionáveis, a pedido do técnico...
O Palmeiras já estava estruturado para seguir outro caminho, investindo mais em qualidade, aproveitando melhor as receitas e gastando de forma ordenada, além de integrar melhor a base “.
Curioso o comentário feito por um palmeirense sobre este artigo: “Um time explosivo, para o bem ou para o mal. É o meu resumo. Não sou pessimista, mas também não quero criar expectativas frustrantes.”
E, sobre a matéria, reiterei no artigo sobre o jogo da Chapecoense, dias depois.
Já iniciada a temporada, no post de 16/02, sobre jogo com São Bernardo, outro comentarista escreveu: “... Nesse nível de futebol, não passaremos nem da primeira fase da libertadores...”
Em 12/07, em comentário do jogo com Corinthians, Paulo Roma, palmeirense emérito, destacou em sua mensagem: “O Cuca está totalmente perdido no meio de um elenco numerosíssimo, de qualidade duvidosa.
...Cuca está perdendo o vestiário. Está desnorteado num ninho de cobras.
Não há um objetivo único do elenco...”
No post de 26/07, sobre a eliminação da Copa do Brasil, um torcedor afirmou que, em sua visão : “O Palmeiras está involuindo, voltando ao passado de forma incrível. Não há comando, profissionalismo, mas sim explosões pessoais dos endinheirados, dos velhos mandatários e nada muda para melhor...”
Por que estou repetindo os comentários? Para ver que era uma história anunciada; que foi escolhido um caminho perigoso, com jogadores com perfil explosivo, dominadores e um técnico inexperiente que, quando substituído, verificou-se que o problema não estava só no comando técnico.
IV – A simbiose – dinheiro e política
Inegável que a oferta financeira dos patrocinadores é excelente e muito ajuda ao clube (19% da receita vêm dos patrocinadores); isso deu certo e é o caminho, como provado com os títulos de 2015 e 2016. Mas este ano houve uma novidade.
Numa polêmica decisão, sobre os aspectos jurídicos (vide post de março), apoiada na palavra do ex Presidente Mustafá, uma das sócias dos patrocinadores conseguiu retroagir a data de seu ingresso no clube e, com isso, foi eleita conselheira, assim como o outro sócio dela.
É inegável que com os cargos que adquiriram, a participação na administração do clube acabou por ampliar-se. Se isso é bom ou ruim, não tenho como afirmar, mas coincidentemente com este novo formato de direção, nada foi positivo em 2017, exceto uma grande quantidade de dinheiro sendo transferida para terceiros (clubes, empresários, jogadores, etc.).
V – Profissionalismo
Em que pese o Presidente sempre afirmar que manterá a direção profissional de alguns departamentos, o fato é que, na prática, isso pode não estar ocorrendo, pois alguns profissionais foram dispensados e outras decisões aparentemente são dadas por terceiros.
VI – Resposta do elenco
Infelizmente, mesmo que somados todos os fatores externos, a verdade é que se ganha dentro de campo. E o elenco não retribuiu o carinho da torcida e as condições oferecidas pelo clube.
Visível, em diversos jogos, a apatia e o desinteresse de alguns atletas. Pior que a falta de técnica é a omissão. Falta espírito vitorioso e de liderança (real, não na base do grito e da violência) no grupo.
Com raríssimas exceções , não se viu um trabalho em equipe, algo treinado e com objetivos certos, mais pareciam um bando correndo de um lado para outro.
O perfil dos atletas do elenco é, certamente, o espelho do que vimos até agora.
Concluindo, com muita sabedoria, o técnico TITE, da seleção brasileira, disse: “Quando o coletivo está bem, o individual aparece".
Não temos coletivo e, até agora, muito pouco do individual.
Sem dúvida, a somatória destes itens acima elencados justifica o resultado obtido.
Enfim, é muito duro iniciar o ano com sonhos e vê-los desmoronando à sua frente, mesmo com dinheiro disponível, uma linda arena, sempre lotada, tendo sido sua camisa escolhida a segunda mais bonita do mundo, pela revista britânica FourFourTwo (Lancenet.com.br. de 12-8-17) e alcançar o 98 lugar do ranking de elenco mais valioso do mundo, com R$ 244 milhões, conforme site especializado Transfermarkt (www.flaresenha.com).
Que esta experiência negativa sirva, pelo menos, de reflexão para um planejamento mais adequado e vitorioso para 2018.
Bom dia. Colocações perfeitas, nada a acrescentar. Parabéns. Joseph.
ResponderExcluirAo ler o post ontem, assim que publicado, fiquei pensando, antes de responder, se faltou algum item relevante, além dos seis indicados. Passei a noite pensando e não encontrei. Foi tudo isso mesmo, infelizmente.
ResponderExcluirBom sábado, palmeirenses. Faz tempo que não leio um texto bem articulado, conciso e fundamentado. Nada de baixaria, citação de vilões, etc. Que a diretoria leia e se inspire pra 2018 . Julio
ResponderExcluirPrezado Júlio, estimado conselheiro e Palestrinos, aqui é o José Carlos, que acompanho este site desde sua criação. A sua colocação, Júlio, reflete a diferença do nível de nossos conselheiros. O Fleury escreve e descreve o que ocorreu, outros querem sensacionalismo e tumultuam mais o ambiente.
ResponderExcluirAnálise perfeita. Sem mais.
ResponderExcluirCriteriosa, imparcial e sensata análisem Parabéns Dr. Fleury
ResponderExcluirPerfeita análise! Que os erros do passado sirvam de lição para o planejamento do ano que vem.
ResponderExcluirVamos apoiar!
Orlando Periotto Neto
Boa noite a todos. Fico feliz em perceber que todos os comentários entenderam a proposta do artigo e, como ressaltou o amigo Orlando Perioto, sempre estaremos ao lado do nosso verdão, cada vez mais forte. Bom domingo a todos. Abs. Fleury
ResponderExcluirAnálise sóbria, narrativa que espelha fatos, impessoalidade. Parabéns Fleury, oxalá sua voz seja amplificada no CD do clube para que duas melhores venham à nossa SEP.
ResponderExcluirAnálise sóbria, narrativa que espelha fatos, impessoalidade. Parabéns Fleury, oxalá sua voz seja amplificada no CD do clube para que dias melhores venham à nossa SEP.
ResponderExcluirCaro amigo Eduardo, nós, palmeirenses que só temos interesse em ajudar o clube, teremos muito trabalho e muitas batalhas para ver o clube realmente moderno e vitorioso. Vamos seguir juntos e em frente, pois este dia chegará. Obrigado a você e a todos que leram e comentaram, aqui e por whtazap. Abs Fleury
ResponderExcluirBom dia Palmeirenses:
ResponderExcluirAnálise perfeita.
Vou repetir: Fleury é um dos pouquíssimos conselheiros que lutam pela grandeza do PALMEIRAS.
Infelizmente não temos no conselho nem 5% de conselheiros com o amor que o Fleury tem pelo Clube.
O texto foi completo e não preciso acrescentar nem uma vírgula.
Abraços
Roma
Obrigado pelas palavras amigo Roma. Gostaríamos de estar discutindo outros temas, como a classificação, etc. Mas a nossa luta segue e com a força dos palmeirenses autênticos, teremos dias melhores. Bom domingo.
ExcluirParabéns pela excelente análise da atual situação do nosso Verdão, Dr. Fleury.
ResponderExcluirQue venham dias melhores à Família Palestra.
Alysson, boa tarde. Grato pelo contato. Se analisarmos as questões deste ano de forma imparcial, veremos que estes seis itens foram relevantes. Enfim, tentou-se, mas não deu certo.
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