A APLICAÇÃO DO VAR E O ASSÉDIO ÀS EMOÇÕES
Tecnologia de Marionetes
George Orwell, através de sua aplaudida obra “1984”, fez esta denúncia no ano de 1948 e a publicou em 1949.
Recentemente, com viés político, Ignácio de Loyola Brandão, também fez tal alerta em seu mais novo romance “Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela”.
Hodiernamente a sociedade é controlada por satélites, radares, câmeras, redes sociais; e todos, sem exceção, bisbilhotam a vida alheia. De forma instantânea, terceiros, conhecidos ou não, autorizados ou não, conhecem sua localização, suas atitudes, suas frustrações, suas alegrias, seus mais íntimos desejos.
A sociedade está se deixando levar pela onda gigante da espionagem. Está a deriva. E vai se afogar.
Demorou um pouco, mas o esporte também foi sugado pela onda, pelo monitoramento.
A tecnologia no esporte veio para ficar.
Contudo, a tecnologia no futebol, chegou para controlar mentes. Assediar emoções.
Mundialmente, milhares, milhões de torcedores, no mesmo instante (separados apenas por fusos horários), suportam, silenciosamente, da insanidade – para se dizer o mínimo, que se tornou a tecnologia para o futebol.
Fora e dentro dos estádios, alguns chamados de arenas.
Inicia-se com o desfraldar das bandeiras incompetentes do Poder Público ao exigir que uma única torcida (em alguns países é permitida uma pequena divisão de 20%) siga o caminho predeterminado pela cavalaria da polícia até chegar ao seu lugar demarcado. A única liberdade do torcedor é escolher se ficará e pé ou sentado. Em alguns lugares, nem isso.
Dentro do estádio / arena, consciente ou inconscientemente, o torcedor marionete, seja de que nacionalidade for, é indevidamente controlado até em suas emoções.
A tecnologia se tornou uma doença. Incurável. A insana e leviana aplicação do uso do VAR já contaminou o futebol mundial e os torcedores, estão tendo, jogo a jogo, suas emoções manipuladas e controladas por interesses maiores, obscuros e, ainda, desconhecidos.
Antigamente, embasados pelos usos e costumes da época, nas arenas romanas tanto a coletividade local, quanto a sociedade em geral, apesar de sua barbárie, participava dos julgamentos dos jogos a que assistiam. Podiam torcer e do julgamento dos “lances” do jogo, participavam.
Atualmente os torcedores, são manipulados por imagens que reproduzem apenas e tão somente a verdade do fato. As imagens não reproduzem a verdade real do instante do lance. Isto porque a velocidade é tão grande que sequer o olho humano pode captá-la.
A câmera de televisão, corrida e/ou lenta, jamais reproduzirá a velocidade do lance feito pelos atletas.
Imagens. Reproduções. Réplicas. Imaginações. Abstrações. Recordações. Irrealidades. Ou seja, o uso da tecnologia por ser manipulável, pode manipular resultados conforme diversos interesses.
Pior. Além do poder de manipulação de resultados, inegável é que controla mentes, desencadeia ansiedades, fere emoções.
Do latim “imago”, significa, sombra, figura, imitação.
Ao revisar uma decisão de campo através de imagens que não são reais (sombras / imitações) - mesmo que repassadas em telões para todos os presentes, o detentor do poder de decisão frustra sentimentos de torcedores que estavam no auge de sua emoção.
Mais absurda é a prática no Brasil, onde a torcida presente ao estádio sequer pode ouvir as conversas dos pontos eletrônicos e muito menos ver as imagens em telões. Ficam os torcedores, vibrando por uma marcação de um lance ou de um gol por longos 3, 5, 7 até 10 minutos, para depois perceberem que sua emoção se transformou em frustração.
A frustração se torna resignação.
A resignação leva ao silêncio.
O silêncio torna a coletividade apática, frágil, manipulável.
Sociedade frágil e manipulável é passível de controle, seja pelo poder que for, que, por óbvio, utilizará da ignorância coletiva que será aflorada.
Inegável é que, em âmbito mundial, estão usando a tecnologia no futebol, como ferramenta de assédio emocional.
Assédio do latim “vexationes”.
O assédio emocional busca distorcer a realidade para confundir o telespectador. “In casu” sua prática é facilitada pelo cerco (pessoas dentro de estádios / arenas), pela insistência (várias e variadas repetições da sombra, da imagem impura, da figura). Citada prática é injusta, indevida e quiçá criminosa, pois beira as raias da ilicitude penal. Se é que tal limite, também imaginário, já não foi ultrapassado.
Falar que a tecnologia traz justiça ao futebol é tergiversar sobre um bem menor.
O que se deve discutir é o mal maior. Neste caso, o uso da tecnologia tem por intenção, com suas práticas espúrias mas subliminares, controlar e assediar as emoções da sociedade como um todo.
De admirar que jornalistas sérios e pessoas notórias fazedoras de opiniões não estejam percebendo a onda gigante a monitorar e afogar a sociedade futebolística. Pior é, caso estejam percebendo, inteligentes que são, preferirem se calar a fim de sustentarem cargos e exposições nas mais variadas mídias.
A justiça do futebol não está no ganhar ou perder. A disputa sempre terá um vencedor, um vencido, um classificado.
A justiça no futebol se mostra pelo respeito que se dá ao torcedor. E também, é claro, pelo respeito que o cidadão torcedor exige para si mesmo, seja isolada ou coletivamente.
O direito à emoção está sendo arrancado do torcedor, que marionete calada, está aceitando passivamente.
Se assim definitivamente for, certo é que torcedores não mais estarão presentes em estádios / arenas. Todos, palhaços com mentes deturpadas, seremos meros espectadores de imagens controladas por terceiros cujas intenções reais não serão as melhores para a sociedade mundial.
JOSÉ CAIADO NETO
Advogado em São Paulo
08/05/2019
É mesmo para se pensar e refletir. Muito interessantes as colocações do advogado Caiado.
ResponderExcluirFutebol e tecnologia devem andar juntos, mas sem tirar a emoção do campo. Existem erros que são passíveis de anulação, quando não há dúvida alguma, pois isso deixa o jogo mais justo. Mas toda hora se valer do VAR para qualquer coisa é banalizar e acabar com o futebol.
ResponderExcluirO texto é muito apropriado para o momento, José Caiado, Roberto Fleury e demais leitores.
ResponderExcluirUma informação em uma matéria de Sociologia no primeiro ano da faculdade, virou conhecimento pra mim.
Isso porque já se passaram vinte e poucos anos e eu não a esqueci: “Não existe verdade absoluta” dizia o texto.
Serve muito bem para essa nova fase do futebol.
Vivi domingo na Arena esse momento com o VAR. 39 mil torcedores numa num clássico e numa semifinal de um torneio, vibraram, se emocionaram, gritaram, se abraçaram e logo repararam no árbitro segurando o fone de ouvido pra ouvir um contato com a central de arbitragem.
Depois de eternos 2, 3 minutos a decisão. O pé do atacante estava à frente do adversário numa linha digital imaginária. Virou ciência.
O silêncio foi maior que o grito da torcida.
No mesmo dia escrevi numa rede social que roubaram a minha emoção e eu a queria de volta.
Já vi discussões sobre o erro da arbitragem há mais de 15 anos. Nela diziam que fazia parte do futebol, que geravam discussões eternas que aumentavam a paixão pelo esporte.
Robotizar as imagens e a emoção de um gol ficar reservada até a decisão de alguns, não é justo.
Então, não existe verdade absoluta.
Nem que digam que é mais ou menos justa essa nova fase.
No entanto, acabar com a sensação de um grito de gol, é condenar esse esporte.
Professor e Doutor Caiado. É o Edu (ex Consist) Há quanto tempo não tinha notícias suas. Ótimo artigo. Entre em contato: 43 999175935. Abraços.
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